Hoje, enquanto conversava com uma pessoa que gosto muito, me deparei com um assunto que vinha me incomodando há bastante tempo. Por que estamos, o tempo todo, com essa sensação de que deveríamos estar fazendo mais? Você pode perguntar ao redor, não é apenas uma ou duas pessoas que estão com esse sentimento, mas sim uma grande parte do seu círculo de amigos\colegas. Estamos todos ansiosos, culpados e com a sensação de que deveríamos estar fazendo mais do que estamos. A questão é: por quê? Por que temos esse sentimento de que o outro consegue fazer muitas coisas, adquirir diversos conhecimentos, enquanto nós estamos aqui, andando pela vida, sem saber pelo menos um pouco sobre muita coisa?
Vivemos em meio à uma competição onde o melhor é aquele que consegue fazer mais coisas em menos tempo, uma competição onde não existe um vencedor, porque ninguém é bom o suficiente para vencer. Bom o suficiente para vencer o quê? Não sei, só sei que eu deveria estar fazendo alguma coisa... Não importa se você tem sete matérias obrigatórias na faculdade, mil provas, trabalhos, textos e a cabeça cheia de problemas, você ainda se sente culpado toda vez que não consegue entender um conteúdo, toda vez que não participa em sala, toda vez que um professor não sabe o seu nome, porque você deveria ter se esforçado mais, feito mais coisa, usado melhor o seu tempo, absorvido mais informação. No fim do dia, você sempre acha que deveria ter feito algo que não fez.
Estamos tão presos nessa lógica irreal e doentia de sucesso, melhor administração do tempo, que nem percebemos o quanto, às vezes, a única coisa que deveríamos estar fazendo é respirando fundo. Porque nem respirar a gente consegue mais, temos que marcar uma hora na yôga para isso. Porque os jornais valorizam a pessoa que estudou vinte e seis horas por dia para passar em medicina, não importa se isso é logicamente impossível, se ela conseguiu, por que você não consegue? Estamos achando “incrível” comportamentos que deveriam estar nos deixando preocupados. Estamos sacrificando a nós mesmos por uma patética e irreal chance de sermos vistos, de sermos importantes, de conseguirmos finalmente calar essa voz que grita constantemente que não somos bons o suficiente. Suficiente para quê? Não importa. Nunca importou.
Ignoramos nossos amigos, deixamos de ir em alguma festa legal, não conseguimos estar 100% presentes nas reuniões de família, nas relações românticas, ou naquele simples momento no parque, tudo porque, no fim, nossa felicidade e nossa saúde sempre perdem espaço na ordem de prioridades irreais de nossas vidas. Algo é sempre mais importante do que parar e entender que às vezes "não fazer nada" é tudo o que você precisa fazer naquele momento.
Então pare, respire fundo, guarde essa culpa imensa no bolso e olhe ao redor, mesmo que seja por apenas dois minutos, mesmo que você não tenha muito tempo. Olhe bem, porque estamos nos tornando pessoas de olheiras enormes e almas culpadas, segurando litros de café e caixas de remédios, enquanto nos perguntamos, constantemente, porque não fizemos mais.