quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Os términos mais difíceis, são aqueles que ocorrem entre velhos amigos.


Então estávamos lá, sentados com nossos joelhos dobrados, um sorriso fraco e uma mágoa no peito. Não dizíamos nada, embora soubéssemos muito bem que só havia uma coisa a ser dita, uma coisa que, por descuido ou covardia, nos negávamos a dizer. Os fatos estavam lá, mais fortes do que nunca, mais evidentes do que nunca, mais tristes do que nunca. Nós nunca saberemos o momento exato em que isso aconteceu, o momento em que uma pequena rachadura, que mais tarde se tornaria uma cratera, se abriu entre nós.

Podemos, inutilmente, pensar em alguns momentos que tenham nos  levado até aqui. Talvez tenha sido naquele dia frio de março, quando passamos a ignorar aquelas tão conhecidas chamadas, ou quando nossos silêncios ficaram mais intensos que nossas risadas. Talvez tenha sido quando percebemos que tínhamos que, desesperadamente, buscar qualquer assunto para não ficarmos desconfortáveis um com o outro. Nós nos magoamos, e fica difícil curar uma mágoa quando ninguém quer falar sobre ela. Nós nos distanciamos, mesmo estando perto um do outro. Nossa presença foi se tornando sufocante, e ninguém quer ficar em um lugar tão difícil de respirar.

Você desdobrou os joelhos, sorriu, enxugou uma lágrima teimosa que insistia em escorrer por sua bochecha e disse que precisava ir embora. Nos despedimos e seguimos caminhos diferentes, talvez esse tenha sido o grande problema desde o início, nós seguimos caminhos diferentes. Qualquer um que olhasse de fora, pensaria que aquilo era apenas um tranquilo “até amanhã”, mas nós sabíamos que não era. “Eu tê ligo”, eu disse com um sorriso fraco, mas eu sabia que não ligaria e você também não. Nós crescemos, e isso é bom, mas crescemos separados, e isso é difícil.

Irei sempre amar nossas lembranças, e sei que você irá guardá-las também, mas não podemos manter algo apenas com lembranças de coisas que já aconteceram. Quando, em uma conversa, o único assunto seguro são as velhas lembranças, talvez seja o momento em que temos que admitir que está na hora de seguirmos em frente. Nosso abraço dói, não uma dor externa, uma dor que não conseguimos explicar, talvez seja um pedacinho de nossas almas que se quebrou um pouquinho com cada partida. Mais uma lágrima, um sorriso fraco e um até logo, mesmo que o “logo” não aconteça tão cedo.  

Este é um termino que ninguém nunca me preparou ou me contou sobre ele, é o fim de algo que ninguém conseguiu me explicar muito bem.  Cada um de nós torcerá pelo outro, eu sei que iremos, bom, eu irei torcer por você, mesmo que esta seja a única coisa que tenho nos restado para fazer. Enfim, pegamos a estrada com um aperto no peito, mesmo sabendo que estamos fazendo a coisa certa, ainda dói. Só porque se está fazendo a coisa certa, não significa que isso seja mais fácil. Virei para trás, mas você já havia saído do meu campo de visão. Respirei fundo e segui meu caminho. Os términos mais difíceis, são aqueles que ocorrem entre velhos amigos.