domingo, 10 de setembro de 2017

Odeio me preocupar com cada e-mail, cada mensagem, cada palavra que disse em uma reunião ou para um grupo de pessoas...





Às vezes, em dias completamente comuns, deito na minha cama e começo a me perguntar o porquê de me preocupar tanto com algumas coisas tão simples e começo a imaginar como seria minha vida se eu não me cobrasse tanto, ou não pensasse tanto sobre cada micro detalhe das coisas que faço e, principalmente, das coisas que digo. Odeio me preocupar com cada e-mail, cada mensagem, cada palavra que eu disse em uma reunião ou para um grupo de pessoas, mesmo que essa reunião tenha ocorrido há mil anos, detesto me preocupar tanto, mas me preocupo, constantemente. E às vezes, eu não consigo parar.


Tem dias em que está tudo bem, a vida está ótima e, por alguns momentos, até esqueço como é me preocupar tanto, o tempo todo. Mas aí, uma simples discussão em sala de aula, ou uma apresentação de trabalho na faculdade, com aquela professora que me deixa um pouco nervosa, me faz voltar para casa me arrependendo de algo que disse e então começa uma sucessão de pensamentos como: “não deveria ter feito aquela pergunta”, “não fui educada o bastante”, “não deveria ter dito aquilo”, “acho que fui muito grossa”, “tudo o que eu disse foi inútil e vergonhoso”, “eu deveria ter estudado mais”, “eu deveria ter ficado calada”. E às vezes eu penso tanto sobre isso que não consigo dormir, mesmo que eu queira e isso me assusta.


Algumas pessoas me dizem para esquecer, pois foi apenas uma discussão e ninguém vai ficar pensando se eu disse ou não algo de errado, mas não é tão simples assim, eu queria que fosse. Eu queria não ficar pensando sobre o assunto por tanto tempo. Eu termino de expor alguma ideia ou pensamento em sala, e me viro para perguntar para o meu colega do lado se o que eu disse foi muito ruim, se foi algo que deu para entender, se não pareceu tosco e vazio. E mesmo que meu colega me diga que foi bom, que ele entendeu o que eu disse, na maioria das vezes acabo me arrependendo de ter dito. De três frases que eu falo em uma conversa com pessoas que não conheço bem, duas me fazem ficar pensando que talvez fosse melhor se eu tivesse ficado em silêncio. 


Tem dias em que repenso cada erro que posso ter cometido, cada palavra que disse em uma simples conversa banal e me sinto cansada por ainda tentar. Mas, nestes dias, respiro fundo, fecho meus olhos um pouco e tento não chorar por isso, busco lembrar das vezes em que gostei de ter dito algo em público, de ter exposto algum pensamento, de ter contribuído para uma discussão em sala. E aí me lembro de uma conversa que tive recentemente, com uma professora que admiro muito. Ela me disse que ainda sente um frio na barriga quando vai dar aula, que ela não dorme direito antes do primeiro dia em uma turma nova e que também sente a famosa dor de barriga antes de falar alguma coisa. Ela é uma pessoa que quando fala, faz a turma inteira prestar atenção. Ela é uma das professoras mais incríveis que eu já tive e isso me faz pensar o quanto eu perderia se ela não falasse, mesmo com o frio na barriga, então, às vezes, eu falo também. 



Eu tento expor algum pensamento, mesmo que seja difícil. Mesmo que eu ainda fique pensando sobre isso três meses depois, tento escrever um e-mail e não ficar três horas procurando erros nele. E tem dias em que eu realmente consigo, e é uma vitória, mesmo que ninguém saiba, mesmo que seja particular. A maioria das vitórias são particulares. Talvez devêssemos começar a contar e dar mais valor à elas também. E eu sei que tem dias em que vou me arrepender de algo que disse, de algo que escrevi, e que vou ficar pensando de novo e de novo e de novo sobre isso, mas, por agora, me contento em conseguir escrever isso aqui, de compartilhar com alguns amigos e de entender que muitas pessoas, até as que considero incríveis, às vezes sentem um pouco o que é viver assim. E eu sei que melhora com o tempo. Está melhor agora. 



Então, o que aprendi em todos esses poucos anos, com todas essas experiências, arrependimentos, e pensamentos constantes às 03:00 da manhã, é que sempre vale a pena tentar prestar atenção quando um colega ou alguém está falando, mesmo que seja algo que eu não entenda, porque ninguém sabe o quão difícil pode ser para ele dizer alguma coisa. Eu sei o quão difícil é para mim. Então busco respirar fundo, continuar falando, continuar escrevendo, mesmo que minhas mãos fiquem tremendo, mesmo que talvez eu me arrependa, mesmo que eu apague esse texto algumas horas depois. Tento distrair minha cabeça e não pensar, tão profundamente, em coisas que, no fundo, não importam tanto assim. Cada dia é um pequena vitória e estou aprendendo, mesmo que aos poucos, a viver bem com elas.