domingo, 29 de novembro de 2015

Sobre a cultura do estupro, você também participa.

Você participa da cultura do estupro, quando diz que uma mulher com uma roupa mais curta está vestida como prostituta. Você participa da cultura do estupro, quando usa “prostituta” como um termo depreciativo. Você participa da cultura do estupro, quando diz que mulher não deve beber demais. Você participa da cultura do estupro, quando ensina seu filho a ver mulheres como um pedaço de carne, como um jogo a ser conquistado. Você participa da cultura do estupro, quando diz que existem mulheres “para casar” e mulheres “para transar”. Você participa da cultura do estupro, quando passa a mão pelo corpo da sua amiga bêbada enquanto ela te abraça. Você participa da cultura do estupro, quando se sente no direito de encoxar uma mulher em algum transporte publico ou em qualquer outro lugar. Você participa da cultura do estupro, quando acha que um “não” significa “me convença”. Você participa da cultura do estupro, quando insiste para sua namorada transar, mesmo que ela não queira. Você participa da cultura do estupro, quando deixa vazar as fotos nuas da sua ex namorada. Você participa da cultura do estupro sim, mesmo que nunca tenha estuprado alguém de fato. Você não é melhor do que eles.

Dói, né? Pois é, elas também sentem, todo dia.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Uma pena que você nunca vai ler.

Eu não sei  não ser indiferente, porque eu cresci tendo que aprender a ser assim. Eu não sei amar, porque eu cresci vendo alguém, que deveria demonstrar amor, ir destruindo a felicidade de outra pessoa aos poucos. Eu não sei manter amigos, porque eu nunca consegui demonstrar sentimentos por eles. Porque você nunca demonstrou sentimentos para alguém além de você mesmo. Eu nunca aprendi a relaxar, porque eu cresci vendo alguém muito importante para mim sendo infeliz. Eu não gosto de aniversários, porque cada ano que passa eu fico pior. Eu não gosto de festas de família, porque eu nunca aprendi o que isso significa, você nunca me deixou aprender, você sempre arranja uma maneira de estragar tudo. Eu não sei ser gentil, porque eu cresci com alguém que me chamava de “merda” toda vez que eu fazia algo errado. Eu nunca levei ninguém para dormir na minha casa, porque eu morria de vergonha que algum dos meus poucos amigos escutassem as coisas que eu escutava de você. Eu não sei demonstrar afeto, porque isso nunca foi uma coisa aprovada por você, sempre você. Eu deveria sentir alguma coisa em relação ao mundo, as pessoas, mas não sinto. Você destruiu quase toda bondade que existia dentro de mim. Eu não sinto pena, remorso, compaixão, porque o ódio e o desprezo que você me faz sentir nubla toda a minha visão do mundo. Eu tenho pavor de casamento, porque eu tenho medo de viver no mesmo inferno que você fez ela viver, que você faz ela viver. Eu finjo que eu sou melhor do que você, mas não sou. Nós somos resumidos na mesma merda. Eu tentei ser alguém bom, eu ainda estou tentando, mas eu acho que vou falhar miseravelmente. Você me deu várias aulas de como não ser uma pessoa boa. Eu não gosto de elogios e não imploro por eles, mesmo quando eu me diminuo na frente das pessoas, porque eu não estou brincando, eu me sinto menor. Você me fez menor. Eu já desejei que você morresse, porque eu já escutei você repetindo muitas vezes que queria que ela morresse e eu também. Você nunca apareceu em alguma formatura minha e no meu baile de 15 anos eu dancei a valsa sozinha. Eu esperei por você, mas eu sabia que você jamais apareceria. Eu tenho horror a bares, porque você vive dentro deles. Eu deveria ter amar, mas não amo. Eu não sei amar, você me tirou essa capacidade. Eu tento ao máximo fazer as pessoas gostarem de mim, mas nem eu gosto de mim mesma. Eu nunca gostei de ter pessoas ao meu lado, porque eu aprendi desde cedo que é mais difícil se sentir fracassada quando se está sozinha.  Agora eu me sinto oca, sou um fantoche manuseado por mim mesma, eu conto mentiras sobre mim, sobre a minha vida. Eu minto o tempo todo. Você também. Por causa de você eu sou uma grande mentira e todo mundo aplaude uma grade mentira. Obrigada, você estaria orgulhoso, mas esse não é um sentimento que você é capaz dê ter. Infelizmente, eu também não. Eu não sinto o minimo orgulho de mim, nem  de você

sábado, 21 de novembro de 2015

Por egos menos obesos, por favor.


Mas não vamos no exaltar, nem colocar os sorrisos arrogantes no rosto. Não, nós não somos melhores do que ninguém. Não importa se você lê mais livros, assiste mais filmes ou sabe o nome de todas as estrelas do céu. Não importa se você não assiste TV, se gosta de tomar chá ou se é adorador de musica clássica. Isso pode te fazer diferente, mas não melhor, nem mais inteligente. Está na hora de aprendermos a diferença.  Vivemos cercados de mesmice e arrogância, cercados daqueles que falam, mas não para ajudar a explicar e sim para mostrar que sabem, que são entendedores do assunto, que são “inteligentes”, que são "melhores". Vivemos cercados por comparativos, por discursos prontos de quem “venceu” e de quem deixou os outros para trás. Mas espera ai, ter um carro melhor, um emprego melhor, uma faculdade melhor, uma vida melhor, te faz melhor do que os outros, certo? Errado. A vida não é uma competição, ou melhor, não deveria ser. As pessoas estão cada vez mais preocupadas em se tornarem melhores do que os outros ao invés de se tornarem pessoas melhores. Marcos tirou uma nota maior do que João na prova, isso faz de Marcos uma pessoa melhor do que João, não faz? Não, ainda não faz.


Por egos menos obesos, por favor. 

Vale apena? eles dizem que vale

Porque revidar a violência é fazer ainda mais violência, é tentar secar o sangue com mais sangue, é tentar honrar a alma de um filho matando outro. Se engana quem acha que a guerra só começou agora, que já não existia gente lá fora gritando por mais. Sempre mais. Porque não existe nada mais violento que o ódio, que a vingança, que a ganância de uma gente que não se digna a olhar para trás. Você já olhou para trás? Tem mísseis  matando, rios acabando, lama transbordando, gente chorando, gritando, clamando por justiça e paz. Mas essa paz, quem é que faz? E a justiça, quem é que traz? Porque o mundo faz guerra, faz intriga, provoca desastre ambiental, destrói rio, destrói gente, destrói casa, destrói a alma de quem dormia em paz. Não se afeta apenas quem está lá no meio, afeta quem também espera, quem se comove, quem tem a decência de olha para trás, olhar para o lado, olhar para o próximo, se olhar no espelho, enxergar além do que a TV traz.  E é triste enxergar tanta coisa. A violência foi revidada, a granada foi acionada, a guerra por "paz" entrou mais uma vez em cartaz. O mundo anda tão amargo que até o rio que era doce não é mais. Vale apena? eles dizem que vale. Morreu, o dinheiro prevaleceu e venceu, mas o mundo perdeu. Mais uma vez.

sábado, 14 de novembro de 2015

Porque no mundo ainda existe muita gente sedenta por sangue, mesmo sem entender por onde, mesmo enquanto clama por paz. Uma paz que ninguém faz.

Hoje eu morri em Paris, fui soterrada em Mariana, fui assassinada no Rio, fui vitima de uma chacina no México. Morri em uma guerra civil na Ucrânia, morri em uma clínica clandestina no Brasil, fui estuprada no meio da viela de uma cidade qualquer. Hoje eu rezei para Alá, Deus, Jesus, Jeová, mas não sei se algum deles me ouviu. Não sei se existe um em meio a vários tantos, em meio a vários prantos que gritam por um único senhor. Não sei se existe um Deus entre vários, se existe algum tipo de amor entre os autoritários, se existe paz em meio a todo esse caos. Porque no mundo ainda existe muita gente sedenta por sangue, mesmo sem entender por onde, mesmo enquanto clama por paz. Uma paz que ninguém faz. Hoje o choro foi coletivo, o desespero foi visto, a tragédia foi filmada e repetida, sempre repetida. E vai continuar sendo. Porque mesmo assistindo a tanto sangue escorrendo pelas ruas, escorrendo pelos olhos, escorrendo pelas mãos, o mundo não aprende que o maior sinal do fim é quando se mata um irmão. Sendo de sangue ou não, sendo da mesma cor ou não, sendo da mesma religião ou não. A gente divide o mundo pela insensatez, pelo amor pela carnificina, pelo desejo de supremacia, pelo ódio ao que não se conhece e não se tenta conhecer. Não foi só a luz de uma torre que se apagou diante à tragédia, foi também a esperança já tão extinta em um mundo que grita por socorro, que lamenta por seu desempenho, que deixa escorrer o seu sangue. Um mundo que enterra cada vez mais cedo seus filhos tão jovens, tão inocentes, tão amados, tão injustiçados. Um mundo onde crianças estão sendo enterradas sem entender o “por quê”.  Hoje eu lembrei de um trechinho daquela do Jonh Lennon e cantei baixinho “Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”, mas não consegui imaginar, não consegui esperar, meus olhos não encontram mais essa visão. As lágrimas do mundo bloquearam a minha capacidade de sonhar e eu sinto muito por isso. Esse texto não tem um fim, talvez não tenha um propósito, ele não apresenta uma solução. Ele é apenas um pedaço da alma de uma pessoa que morreu um pouco hoje e vai continuar morrendo amanhã, como tanto outros despedaçados e sem esperança. Paris morreu, Mariana também, Ucrânia, Nigéria, Israel, México e várias outras partes do mundo. Um mesmo mundo. Irônico, não? Ouvi dizer uma vez, que a guerra acaba se a gente quiser, mas a gente nunca quer, mesmo quando quer.


— Scooby-doo estava certo o tempo todo, os verdadeiros monstros são os seres humanos.

(LS)