À percepção da perda é
tão obscura e insensitiva quanto à percepção da vida. Vivemos como se fossemos eternos, tratamos
os outros de qualquer maneira porque temos dentro de nós, a certeza de que
amanhã teremos tempo para nos desculpar, agradecer, abraçar. É triste quando
esse tempo acaba, quando um ciclo é interrompido antes do tempo. É estranho
entrar em um lugar e não encontrar mais quem costumávamos ver. É como entrar em
uma sala em que os móveis foram trocados drasticamente de lugar. No primeiro
instante, temos aquela sensação de estranheza de perda de irrealidade. Nossa
primeira vontade é por os moveis no antigo lugar, reorganizar as coisas para
que assim, possamos viver como sempre. Mas a vida não é algo que possa ser
reorganizada. Como se reerguer depois de uma grande perda? Ninguém ensina isso
nas escolas. Queria poder escrever que a vida é justa e que os sonhos não
morrem. Queria poder escrever que o sorriso é sempre grande e os amigos
eternos, mas não posso e não vou. Eu aprendi isso hoje. Não há justiça na vida,
assim como não há justiça na morte. A morte por si só já é injusta. Uma das
primeiras coisas que escutamos quando perdemos alguém é que “a vida continua” é
uma frase triste e nos irritamos com ela, mas ela é real e é o que nos matem
vivos. Porque a gente grita, escreve, canta, estuda, chora, mas
continua vivendo e isso é o mais importante de tudo. A gente
continua vivendo. Porque tudo passa, mesmo para aqueles que insistem em
acreditar que tudo fica. Porque guardamos os bons momentos e os deixamos
escondidos para lembrar de vez em quando, porque espalhamos as boas histórias
os bons risos e as boas memórias. Porque mantemos vivos dentro de nós o som das
risadas que jamais envelhecerão. E no fim de tudo, é só isso que
importa. É nas memórias dos que cativamos que finalmente nos tornamos
eternos.
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