sábado, 14 de novembro de 2015

Porque no mundo ainda existe muita gente sedenta por sangue, mesmo sem entender por onde, mesmo enquanto clama por paz. Uma paz que ninguém faz.

Hoje eu morri em Paris, fui soterrada em Mariana, fui assassinada no Rio, fui vitima de uma chacina no México. Morri em uma guerra civil na Ucrânia, morri em uma clínica clandestina no Brasil, fui estuprada no meio da viela de uma cidade qualquer. Hoje eu rezei para Alá, Deus, Jesus, Jeová, mas não sei se algum deles me ouviu. Não sei se existe um em meio a vários tantos, em meio a vários prantos que gritam por um único senhor. Não sei se existe um Deus entre vários, se existe algum tipo de amor entre os autoritários, se existe paz em meio a todo esse caos. Porque no mundo ainda existe muita gente sedenta por sangue, mesmo sem entender por onde, mesmo enquanto clama por paz. Uma paz que ninguém faz. Hoje o choro foi coletivo, o desespero foi visto, a tragédia foi filmada e repetida, sempre repetida. E vai continuar sendo. Porque mesmo assistindo a tanto sangue escorrendo pelas ruas, escorrendo pelos olhos, escorrendo pelas mãos, o mundo não aprende que o maior sinal do fim é quando se mata um irmão. Sendo de sangue ou não, sendo da mesma cor ou não, sendo da mesma religião ou não. A gente divide o mundo pela insensatez, pelo amor pela carnificina, pelo desejo de supremacia, pelo ódio ao que não se conhece e não se tenta conhecer. Não foi só a luz de uma torre que se apagou diante à tragédia, foi também a esperança já tão extinta em um mundo que grita por socorro, que lamenta por seu desempenho, que deixa escorrer o seu sangue. Um mundo que enterra cada vez mais cedo seus filhos tão jovens, tão inocentes, tão amados, tão injustiçados. Um mundo onde crianças estão sendo enterradas sem entender o “por quê”.  Hoje eu lembrei de um trechinho daquela do Jonh Lennon e cantei baixinho “Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”, mas não consegui imaginar, não consegui esperar, meus olhos não encontram mais essa visão. As lágrimas do mundo bloquearam a minha capacidade de sonhar e eu sinto muito por isso. Esse texto não tem um fim, talvez não tenha um propósito, ele não apresenta uma solução. Ele é apenas um pedaço da alma de uma pessoa que morreu um pouco hoje e vai continuar morrendo amanhã, como tanto outros despedaçados e sem esperança. Paris morreu, Mariana também, Ucrânia, Nigéria, Israel, México e várias outras partes do mundo. Um mesmo mundo. Irônico, não? Ouvi dizer uma vez, que a guerra acaba se a gente quiser, mas a gente nunca quer, mesmo quando quer.


— Scooby-doo estava certo o tempo todo, os verdadeiros monstros são os seres humanos.

(LS)

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