quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Até suas contradições eram bonitas, mas não mais bonitas do que ela.

Teve também uma menina muito bonita que eu conheci no meio de todo esse caos, mas ela não sabia disso, uma pena eu diria. Dizem por aí que ela era meio maluca da cabeça, mas as pessoas é que são certas demais, certas de um jeito errado, de um jeito que nem faz muito sentido, mas ela fazia. Tinha os olhos azuis e escuros, desses que se parecem com o céu naqueles momentos antes de uma forte tempestade, naqueles momentos em que você olha para cima e pensa “que céu bonito”, mesmo sabendo que ele está prestes a desabar. Ela já beijou muitas pessoas, mas abraçou poucos corpos, tinha medo do contato, do toque, da experiência de deixar o outro chegar onde já estava bagunçado, machucado, dolorido. Onde já havia cicatrizado, mas ainda doía. Ela usava vestidos nas festas, mas shorts e camisa na praia, uma contradição daquelas que dizem muito, que mostram muito, mas só para quem sabe para onde olhar. Porque quem não olha direito, não consegue enxergar-lá, e ela já passou por muita gente que não conseguia enxergar-lá. O  jeito era de quem não se abalava com mais nada, mas o peito ainda apertava, a respiração ainda afiava e os olhos se enchiam quando lia Alice. Não tente entender, o eterno às vezes dura apenas um segundo, foi o coelho quem disse, não eu. Até suas contradições eram bonitas, mas não mais bonitas do que ela. O coração, daqueles que aceitavam o mundo, era muito bonito também. Coração de quem aprendeu a viver sozinha, mesmo aos quatorze, mesmo longe, mesmo aos vinte, mesmo com as luzes e a música, mesmo com muita gente em volta. Ela não vê nem metade do que é, principalmente nas coisas boas, nas coisas grandes, nas coisas que ela deveria sentir orgulho de ser. Eu só passei por ela, não posso dizer mais do que meus olhos puderam alcançar, mas eu a vi, em um mundo onde quase ninguém mais enxerga a beleza de ser aquilo que se é. Eu disse que escreveria sobre ela e escrevi. Espero que ela se veja melhor, se enxergue melhor, de uma forma mais bonita, de uma forma mais clara, mais doce. Doce como o sorriso que ela é capaz de dar em um dia despreocupado, um dia em que ninguém está realmente prestando atenção. Espero que ela compreenda que merece mais, muito mais. Mais do que os ex’s, mais do que os “talvez”, mais do que eu, que apenas esbarrei nela e já saí por aí achando que podia descrevê-la, não posso. Ela é muito mais do que um pedaço de papel, a maioria das pessoas é. Talvez um dia ela perceba tudo isso e eu torço por esse dia, mesmo que isso, torcer, seja a única coisa que eu possa fazer por ela. Uma pena que ela não veja o que eu vejo, uma pena que a gente não possa fazer o outro enxergar a beleza que a gente enxerga nele. Uma pena, porque o mundo seria mais claro, mais florido, mais bonito, mais da cor daqueles olhos azuis em um dia de tempestade. Espero, além de tudo, que ela se ame pela maneira que é, não pela maneira que muita gente quis que ela fosse. A maioria de nossas imperfeições são criadas por nós e vistas apenas em nossos próprios espelhos.  

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